Projeto ARETÉ

2. HISTÓRICO DA ORGANIZAÇÃO

O Instituto Noitikos de Apoio ao Ensino – INAPE é uma instituição sem fins lucrativos, fundada em 2011, idealizada por Maria Aparecida de Lima Tomazelli Sabará e elaborada com a proposta de acolher crianças e adolescentes com deficiência intelectual e/ou dificuldades de aprendizagem. O atendimento destas crianças e adolescentes se dá em parceria com escolas da rede pública e privada, sendo este realizado por uma equipe multidisciplinar composta por profissionais especializados nas áreas da pedagogia, psicologia, psicopedagogia, neuropsicologia, fonoaudiologia, terapia ocupacional e serviço social.

Visando ampliar o trabalho frente à vulnerabilidade social que atinge as crianças e adolescentes, percebeu-se a necessidade de criar o Projeto ARETÉ.

3. APRESENTAÇÃO DO PROJETO

O PROJETO ARETÉ tem com objetivo a continuação e ampliação dos trabalhos já realizados pelo Instituto Noitikos de Apoio ao Ensino, contemplando a crescente demanda por espaços alternativos de construção de conhecimento e potencializando o enfrentamento das questões relativas à vulnerabilidade social de crianças e adolescentes. As atividades serão desenvolvidas nas instalações do próprio Instituto, garantindo assim, um espaço de acolhimento e estimulação para todos os envolvidos.

O significado de ARETÉ (do grego ἀρετή aretê,ês, “adaptação perfeita, excelência, virtude”)  designa a excelência de algo ou alguém, o termo tem origem grega e foi especialmente utilizado com o significado de virtude pelos sofistas. Na língua tupi-guarani, o termo areté tem o significado de “dia festivo”, ou seja, um tempo prazeroso.

Em caráter de Atendimento Educacional Especializado, o Projeto Areté pretende oferecer atividades pedagógicas, artísticas, socioculturais e tecnológicas no período alternado com o ensino regular.  Pretende-se beneficiar crianças e adolescentes, de 7 anos a 17 anos e 11 meses, matriculadas no ensino regular em escolas da Vila Marari e adjacências; com foco para o público com  deficiência intelectual leve ou que apresentem déficits no processo de aprendizagem.

4. JUSTIFICATIVAS

A educação tem uma função social transformadora que visa à construção do desenvolvimento intelectual, saberes para o trabalho, transmite e amplia a cultura, além disso, é o principal meio para introduzir a criança na vida social. O âmbito educacional compreende, também, a difusão do convívio e da valorização das diferenças, para que seja possível viver em uma sociedade justa e igualitária. (BRASIL, 2007)

A Educação Inclusiva (E.I.) abrange a compreensão que há alunos distintos em características intelectuais, físicas, culturais, sociais e lingüísticas e trabalha para assegurar o direito à educação dos mesmos. (BRASIL, 2007). Nos casos de alunos com deficiências, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades, a E.I. orienta ações para a organização de redes de apoio, formação continuada de professores, identificação de recursos, serviços e práticas colaborativas visando à aprendizagem e o exercício da cidadania.

Por educação especial, (…) entende-se um processo educacional definido em uma proposta pedagógica, assegurando um conjunto de recursos e serviços educacionais especiais, organizados institucionalmente para apoiar, complementar, suplementar e, em alguns casos, substituir os serviços educacionais comuns, de modo a garantir a educação escolar e promover o desenvolvimento das potencialidades dos educandos que apresentam necessidades educacionais especiais, em todos os níveis, etapas e modalidades da educação (BRASIL apud. Mazzotta, 2001, p. 27)

O Atendimento Educacional Especializado (AEE) possui caráter complementar ou suplementar ao ensino regular, buscando a autonomia e independência dos educandos (BRASIL, 2007). Baseando-se nas diretrizes da Educação Especial enuncia-se que as intervenções no atendimento educacional especializado fundamentam-se nos seguintes princípios: “a preservação da dignidade humana; a busca da identidade e o exercício da cidadania”. (BRASIL, 2001, p.23 e 24) Sendo assim, idealiza-se um espaço acolhedor, de respeito aos direitos humanos e valorização e estímulo para capacidades e habilidades próprias do público atendido.

A atuação pedagógica do projeto está focada, portanto, em contemplar os enunciados anteriores, buscando atender crianças e adolescentes matriculados no ensino regular de escolas da Vila Marari e adjacências para que estes possam estar devidamente incluídos e serem atuantes em seus processos de aprendizagem.

5. OBJETIVOS
5.1. Geral

Possibilitar inclusão escolar e o acesso aos conhecimentos conforme necessidades acadêmicas, contemplando as possibilidades e limitações dos educandos. Além disso, oferecer espaço de segurança emocional onde cada participante possa contribuir com suas potencialidades e desenvolver as habilidades acadêmicas e socioemocionais.

5.2. Específicos

Possibilitar a inclusão escolar por meio de atendimento em grupo no período alternado ao ensino regular com atividades dirigidas que estimulem o desenvolvimento pedagógico, artístico, sociocultural e tecnológico do público beneficiado, com foco no público com deficiência intelectual leve ou que apresentem déficits no processo de aprendizagem.

6. PÚBLICO BENEFICIADO

Pretende-se beneficiar crianças e adolescentes, de 7 anos à 17 anos e 11 meses, matriculadas no ensino regular em escolas da Vila Marari e adjacências; com foco para o público com  deficiência intelectual leve ou que apresentem déficits no processo de aprendizagem.

7. METODOLOGIA

 6.1. Estratégias Pedagógicas

O cronograma do Projeto Aretê pretende seguir a orientação de três momentos pedagógicos, sendo estes: Lição de Casa, Habilidades Acadêmicas, Estimulação cognitiva ou Projetos. Justifica-se cada um deles conforme a seguir.

Lição de Casa

Momento para concentração e esforço individual das crianças envolvidas no projeto, para realização das lições de casa, contando com apoio ou não, a fim de ajudá-los na organização da rotina escolar. Pode haver disponibilização de livros e jogos educativos para as crianças que não tiverem a demanda de lição de casa no dia proposto.

Habilidades Acadêmicas

Momento para desenvolver habilidades acadêmicas gerais em grupos, nos quais cada indivíduo poderá dar sua contribuição em contextos lúdicos de aprendizagem, tais como Rodas de Leituras, oficinas de Redação e oficinas de Matemática. As atividades serão dirigidas por membros da equipe especializada do INAPE, com propostas planejadas a fim de contemplar as necessidades evidenciadas pelo grupo para o contexto escolar.

 Estimulação Cognitiva ou Oficinas

Momento que visa melhorar o desempenho ou as funções cognitivas, como; memória, atenção, a concentração, o raciocínio, a capacidade de resolução de problemas, sensibilização, estimulação cognitiva e socialização das crianças envolvidas no projeto, com propostas para estimular habilidades sociais, percepção espacial e temporal, cultura corporal, priorizando o desenvolvimento cognitivo e motor. Serão realizadas na forma de oficinas, visando contemplar o interesse dos indivíduos envolvidos.

Previsão do Cronograma

Atividades do Contraturno Especializado PROJETO ARETÉ
Segunda Terça Quarta Quinta Sexta
8:00 – 9:00  

Lição de Casa

 

 

Lição de Casa

 

 

Lição de Casa

 

 

Lição de Casa

 

Lição de Casa

 

9:00 – 9:30 Lanche Lanche Lanche Lanche Lanche
9:30 – 10:30 Habilidades Acadêmicas

 

Habilidades Acadêmicas

 

Habilidades Acadêmicas

 

Habilidades Acadêmicas

 

Habilidades Acadêmicas

 

10:30 – 11:45 Educação Musical e Artística

 

Judô

 

Inglês

 

Educação Musical e Artística

 

Atividades Psicomotoras Educação Física

 

 

11:45 – 12:45

 

Almoço Almoço Almoço Almoço Almoço
12:45- 14:00 Educação Musical e Artística Judô Inglês Educação Musical e Artística Atividades Psicomotoras Educação Física
14:00 – 15:00  

Lição de Casa

 

 

Lição de Casa

 

 

Lição de Casa

 

 

Lição de Casa

 

Lição de Casa

 

15:00 – 15:30 Lanche Lanche Lanche Lanche Lanche
15:30 – 16:00 Habilidades Acadêmicas

 

Habilidades Acadêmicas

 

Habilidades Acadêmicas

 

Habilidades Acadêmicas

 

Habilidades Acadêmicas

 

São oferecidos lanches e almoços como incentivo para a conscientização nutricional e reeducação alimentar das crianças e adolescentes envolvidos.

Descrição dos Objetivos das Atividades

Habilidades acadêmicas

Roda de leitura – Estimular a leitura por meio da apresentação de livros (um diferente a cada semana) e organizar empréstimos, incentivando as leituras coletivas.

Objetivos: Estimular as práticas da leitura e possibilitar a aquisição de hábitos de leitura; desenvolver habilidades leitoras e escritoras.

Método: Realização de leituras compartilhadas de textos de baixa/média complexidade para posterior construção de ficha de leitura; leituras individuais seguidas de comunicação oral do texto lido; exploração das histórias lidas, por meio da utilização de diferentes abordagens: criação de desfechos alternativos para o enredo, elaboração de materiais relacionados às histórias, etc.

Materiais a serem utilizados: Materiais de diferentes gêneros textuais, cartolina, papel kraft, canetas hidrocor, canetas esferográficas, lápis, borrachas, apontadores, folhas pautadas para fichamentos, réguas.

Oficina de matemática – Elaboração de sequência didática para trabalhar conceitos matemáticos; possibilitar a construção coletiva das atividades.

Objetivos: Buscar a aprendizagem de conceitos matemáticos que possibilitem lidar com situações cotidianas (preços, horas, descontos em lojas, orçamento doméstico, distâncias, etc.)

Método: Selecionar um tema relacionado às situações cotidianas e explorar os conceitos matemáticos ligados a ele. Se escolhermos trabalhar preços, por exemplo, destacaremos como conceitos fundamentais a aprendizagem de números decimais, frações, equivalência, etc.

Materiais a serem utilizados: jogos diversos, cartolinas, barbantes, cola, miçangas, réguas, canetas hidrográficas, sucata, revistas, jornais, lápis HB, borrachas, apontadores, papel quadriculado, isopor.

Oficinas de redação – Reunir habilidades diversas (pesquisar, analisar, entrevistar, argumentar, etc), tendo como objetivo a construção (individual e coletiva) de textos.

Objetivos: Desenvolver habilidades de escrita e compreensão textual, além de desenvolver o senso crítico dos participantes.

Método: Pretende-se que as oficinas de redação ocorram às quintas-feiras para reunir as informações da semana, a partir dos interesses e falas das crianças durante as atividades, assim, caracterizando-se como uma atividade para síntese e fechamento das atividades da semana.

Materiais a serem utilizados: gravadores de áudio e vídeo, cartolinas, papéis diversos, revistas, jornais, lápis HB, borrachas, apontadores.

Estimulação cognitiva e Oficinas

Neste campo, contemplam-se as seguintes áreas:

Inglês – Elementos culturais da língua visando ao aprendizado de palavras novas e à compreensão da importância de uma nova língua no contexto atual.

Informática – Conscientização de conhecimentos do campo da informática, visando à troca de experiências e vivências tecnológicas.

 Atividades Psicomotoras Educação Física – Convivência com jogos em grupo e jogos cooperativos, trabalhando noções corporais, limites e regras.

Judô –  Luta corporal que incentiva à disciplina e às habilidades físicas, a fim de fortalecer o corpo e desenvolver habilidades psicomotoras.

Educação Musical e Artística – Trabalhar com a criatividade, iniciativa e expressão de ideias, além disso, incentivar o conhecimento musical, trabalhando reconhecimento e produção dos sons por meio do uso do corpo e instrumentos musicais.

Oficinas de artes visuais – Oficinas de pintura, fotografia e vídeo, com iniciativas para a confecção de artesanatos.

Recreação – Obter um repertório de brincadeiras e jogos, visando o resgate da cultura tradicional das brincadeiras em contextos lúdicos de aprendizagem.

Atividades Extras – As atividades extras também podem incluir saídas culturais, exibição de filmes ou projeções, conversa com os pais, palestras de conscientização, etc. Há sugestão para que essas atividades ocorram nas últimas sextas-feiras de cada mês, bimestralmente.

8. IMPACTO

Através do Projeto Areté as crianças e jovens beneficiados terão acesso a conteúdos pedagógicos apresentados de maneira diferenciada, lúdica e compreendendo o contexto no qual cada indivíduo está inserido. A equipe do Projeto Areté promove, em um ambiente acolhedor, noções de cidadania, organização de rotina e o desenvolvimento de estratégias de estudo para que o aluno possa se incluir no ambiente escolar de forma participativa e autônoma. Dessa forma, o impacto do Projeto Areté se estende às famílias, à escola e à comunidade em geral.

9. PARCERIAS

As principais parcerias do INAPE são com empresas privadas, escolas públicas e particulares da região, além de importantes organizações da sociedade civil (OSC) que possibilitam o intercâmbio de informações, recursos e experiências que auxiliam para que a atuação seja focada nas reais necessidades das crianças e adolescentes envolvidos no projeto Areté.

Também se busca parcerias com voluntários para realização de palestras eventuais sobre assuntos de interesse social e coletivo dos beneficiários, além do auxílio de apoio material para a manutenção do Projeto Areté.

10. RECURSOS

 10.1. Recursos Materiais

Sala principal equipada com:

  • Carteiras
  • Lousa branca
  • Material de papelaria (folha sulfite, lápis preto, borracha, apontador, canetinhas, lápis de cor, cola e tesoura)
  • Livros diversos
  • Mural
  • Aparelho de som
  • Aparelho de televisão
  • Tablets e Computador

Salas de apoio equipadas com:

  • Jogos educativos
  • Fantasias diversas
  • Tintas guache e pincéis
  • Massinha de modelar e Argila
  • Material de papelaria (folha sulfite, lápis preto, borracha, apontador, canetinhas, lápis de cor, cola e tesoura)
  • Estrutura para teatro com fantoches
  • Mural
  • Aparelhos de som
  • Tapete
  • Colchonetes
  • Bolas de plástico macias
  • Lousa branca
  • CDs de músicas infantis e clássicas

Sala de informática equipada com:

  • 5 computadores com acesso à internet

Área do lanche equipada com:

  • 2 mesas grandes
  • Bancos

No momento do lanche são fornecidos:

  • Guardanapos
  • Talheres
  • Copos
  • Vasilhas individuais
  • Escovas e pastas dentais individuais

10.2. Recursos Financeiros

  • Equipe salário
  • Luz
  • Água
  • Telefone
  • Cozinheira
  • Faxineira
  • Lanche
  • Almoço
  • Aluguel de ônibus (saídas culturais)
  1. EQUIPE TÉCNICA
Nome do Profissional Qualificação Função no Projeto
Maria Aparecida Sabará Direção Idealização e Coordenação
Carla Roberta Batista Psicóloga Coordenação
Lais Finetti Pedagoga Coordenação
Amauri Prates Psicólogo Monitor das Atividades
Juliana Bonizzi Psicóloga Monitora das Atividades
Regiane Aparecida Psicóloga Monitora de Atividades
Antonia Auxiliar Auxiliar da Cozinha
Renata Auxiliar Auxiliar da Limpeza
12. CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO

O projeto Aretê está em andamento desde 2017, com iniciativas em planejamento no ano anterior, contando com a parceria principal de escolas públicas e privadas próximas da região.

 

DESCRIÇÃO DE ATIVIDADES 2016 2017
out nov dez jan fev mar abr mai jun Jul
Elaboração do projeto X x x x
Pesquisa bibliográfica X x x x
Alinhamento de técnicas da equipe X x x x
Início do projeto e caracterização do perfil atendido x x
Adaptações nas técnicas da equipe x x x
Análise e acompanhamento do desempenho escolar x x
Avaliação das atividades e do desempenho dos envolvidos x x
Encerramento do semestre e planejamentos posteriores x X

  

DESCRIÇÃO DE ATIVIDADES 2017 2018
Ago set out nov dez jan fev mar abr Mai
Análise e acompanhamento do desempenho escolar X x x x
Avaliação das atividades  e do desempenho dos envolvidos X x x x
Encerramento, planejamento de atividades e início do semestre. x x
Atividades de divulgação e alinhamento com os pais e escolas envolvidas x x x
Adaptações nas técnicas da equipe x x x
Análise e acompanhamento do desempenho escolar x x X

  

13. RESULTADOS ESPERADOS

 O projeto ARETÉ visa alcançar resultados a curto, médio e longo prazo, conforme descrito a seguir:

Curto prazo:

  • Acolhimento e sentimento do individual e do coletivo.
  • Aumento da autonomia para os estudos em ambiente escolar e familiar.
  • Melhora na compreensão de regras e orientação nos aspectos comportamentais.

Médio prazo:

  • Melhora no desempenho escolar (notas, aspectos comportamentais e aspectos de socialização).
  • Melhora na comunicação e expressão verbal e escrita.
  • Melhora na organização pessoal.
  • Estabelecimento de rotina de estudos.

Longo prazo:

  • Desenvolvimento de aspectos da autonomia pessoal e participação social.
  • Melhora no desempenho escolar (notas, aspectos comportamentais e aspectos de socialização).
  • Desenvolvimento de aspectos do senso crítico, autonomia e opinião própria.
14. AVALIAÇÃO

 A avaliação é entendida como processo permanente de análise das variáveis que interferem no processo de ensino aprendizagem, para identificar potencialidades e necessidades educacionais dos alunos e as condições da escola para responder a essas necessidades” (BRASIL, 2001, p.34)

Estão sendo adotadas como medidas avaliativas do projeto Aretê dados qualitativos e quantitativos que indiquem o desenvolvimento global dos educandos, tais como: Atividades realizadas dentro do horário do grupo, atividades de lição de casa ou estudos autônomos, acompanhamento das notas de provas escolares, além da possibilidade de realização de avaliação em equipe multidisciplinar, demonstrando dados explícitos de desenvolvimento cognitivo e acadêmico.

Além disso, a cada final de semestre, são feitos relatórios individuais com observações da equipe multidisciplinar e entregues aos pais em reunião presencial, a fim de dar suporte à continuidade das atividades em ambiente familiar. Os dados coletados poderão servir à equipe para planejamento de atividades posteriores; à escola como relato de Atendimento Educacional Especializado; aos pais e/ou responsáveis.

15. Outras informações relevantes

 RELACIONAMENTO COM AS ESCOLAS

 A escola tradicional, embora parte importante do percurso trilhado na construção de conhecimento, nem sempre é capaz de contemplar a totalidade — e a complexidade — de possibilidades de aprendizagem. A questão torna-se particularmente complexa quando tratamos de inclusão de crianças com necessidades educativas especiais.

Nessa perspectiva, entendemos como fundamental a construção de uma rede de trabalho, na qual a criança e todos os atores inseridos no processo educativo participem de objetivos comuns. Assim, o constante diálogo com as escolas possibilita o amplo conhecimento das possibilidades de cada criança, garantindo o respeito e o reconhecimento de seu potencial e de suas competências.

O tema da educação — e dos múltiplos prismas que a envolvem — pode ser observado na Lei 9494/96, art. 1º, no qual define-se que “A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.” Assim, em observância aos princípios norteadores das práticas educacionais brasileiras, propõe-se o contraturno escolar como garantia de uma formação ampla e consistente.

Nesse sentido, ressalta-se a importância de um diálogo constante com as escolas cujos alunos estejam matriculados no Projeto, garantindo, desse modo, o desenvolvimento dos atendidos.

 

RELACIONAMENTO COM PAIS E RESPONSÁVEIS

 Durante o trabalho com crianças e adolescentes, é possível observar a importância do papel da família em qualquer processo que estejam vivendo, pois os pais são suas referências e seus apoios. Contudo, essa participação está em desenvolvimento, no qual tanto as escolas, quanto as famílias, estão passando por processos de superação dos preconceitos e tabus. Para tanto é válido que instituições promovam novas maneiras de estabelecer essa parceria com os pais, uma vez que, tal postura, facilitará seu trabalho, assim como vislumbrará mais sucesso em seus objetivos. Saraiva e Wagner (2013) diz que “A Família e a Escola são instituições que compartilham a tarefa de preparar e encaminhar os sujeitos para a vida nos seus mais diversos aspectos”.

Sobre isso, Caetano (2003 apud Fevorini, 2009) descreve que “essa iniciativa de aproximação deve partir das escolas e de seus educadores” (p, 38). Paro (2000 apud Fevorini, 2009) acrescenta que “é por meio de uma postura positiva da instituição em relação aos seus usuários, oferecendo situações de diálogo e de convivência, que se proporcionará uma posição efetiva deles na vida escolar de seus filhos” (p, 38).

Saraiva e Wagner (2013), descreve ainda, que “Sendo assim, atualmente, considera-se que a família e escola assumem responsabilidades complementares no que diz respeito à educação das crianças e jovens”.

Pensando-se nessa parceria, é de suma importância afastar pensamentos com críticas aos familiares, pois as escolas, assim como outras redes, podem servir de apoio, oferecendo orientações. Porém essa mesma mudança de pensamento deve ocorrer pelos familiares, visto que ambos estão ali em relações e sempre pode haver troca e compreensão das necessidades, uma vez que a família pode ser participante ativa dessa rede de desenvolvimento da criança/adolescente, contribuindo para o desenvolvimento e aprendizagem dos estudantes, promovendo, assim, melhoras na qualidade das relações de todos os envolvidos. Griffa e Moreno (2001) comentam que “A sociedade é um agrupamento de pessoas organizadas de modo estável visando o mesmo fim” (p. 220).

Piaget (1991 apud. Fevorini, 2009) acrescenta que:

“uma ligação estreita e continuada entre os professores e os pais leva, pois, a muita coisa mais que uma informação mútua: este intercambio acaba resultando em ajuda recíproca e, frequentemente, em aperfeiçoamento real dos métodos. Ao aproximar a escola da vida ou das preocupações profissionais dos pais e ao se proporcionar, reciprocamente, aos pais um interesse pelas coisas da escola, chega-se até mesmo a uma divisão de responsabilidades” (p, 40).

Quando descreve-se a respeito das relações entre pais e escola, tem que se levar em consideração que, entre essas duas instituições (família/escola), há as crianças/adolescentes, no qual ambos terão que dar conta das demandas e necessidades dos pequenos envolvidos, fornecendo-lhes base e afeto, facilitando seu desenvolvimento motor, ensino-aprendizagem e emocional, ou seja, provendo construção positiva de um indivíduo completo. Saraiva e Wagner (2013), comenta que:

“Estudos atuais apontam que uma boa parceria entre família e escola tende a ser fator preditor de saúde, visto que melhora o processo de aprendizagem, afeta positivamente os resultados acadêmicos. Previne igualmente problemas de comportamento, de frequência nas aulas, abandono escolar e estimula o seguimento dos estudos em nível superior”.

Enfatizando o emocional, Winnicott (2012) comenta que “A psicologia emergiu de uma confusão insolúvel com a ideia, hoje aceita, de que existe um processo contínuo de desenvolvimento emocional, que começa antes do nascimento e prossegue ao longo de toda a vida” (p. 216). O mesmo autor conta que “as relações devem ser primeiramente ensaiadas com coisas subjetivas” (p. 165).

Sendo assim, vale preocupar-se em criar um ambiente seguro, suficientemente bom, pois com isso, facilitará o bom desenvolvimento dos sujeitos. Quanto a isso Winnicott (2012) acrescenta que:

“(…) se observarmos as fases iniciais desse processo, veremos o bebê muito dependente dos cuidados da mãe, da sua presença contínua e da sua sobrevivência (…) o bebê é seguro nos braços pela mãe, e só entende o amor que se expressa em termos físicos, que dizer, pelo ato humano e vivo de ser seguro nos braços. É a dependência absoluta e não há defesa para uma deficiência ambiental nessa fase muito precoce (…)” (p. 217).

No pensamento de Winnicott (1979), a escola complementa os cuidados da mãe e se configura, possivelmente, em uma ampliação da família. Nesse sentido a professora não substitui os cuidados maternos, mas dá continuidade ao trabalho da mãe em função das necessidades da criança em seu período de desenvolvimento. No entanto, a mãe não necessita de uma bagagem intelectual, apenas seu instinto materno e sua orientação biológica são suficientes para torná-la suficientemente boa para fornecer os cuidados necessários nas fases iniciais do desenvolvimento infantil. A professora, por outro lado, não tem a orientação biológica, mas carrega o conhecimento intelectual para compreender e lidar com a complexidade psicológica da fase de crescimento da criança. Além disso, se os cuidados da mãe não forem bem sucedidos a escola terá a função de suplementar e corrigir o fracasso materno. Dessa forma a instituição pode tornar-se um ambiente facilitador para que a criança desenvolva sua individualidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente no Brasil. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. 2001. Brasília: MEC/SEESP, 2001. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/diretrizes.pdf> acesso em 16 de fev. 2017.

_____. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília: MEC/SEESP 2007. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=16690-politica-nacional-de-educacao-especial-na-perspectiva-da-educacao-inclusiva-05122014&Itemid=30192> acesso em 16 de fev. 2017.

MINI DICIONÁRIO TUPI-GUARANI. Disponível em: <https://maniadehistoria.wordpress.com/mini-dicionario-tupi-guarani/> acesso em 30 de Mar de 2017

FERVORINI, Luciana Bittencourt. O envolvimento dos pais na educação escolar dos filhos: um estudo exploratório. São Paulo, 2009.

GRIFFA, Maria Cristina; MORENO, José Eduardo. Chaves para a Psicologia do Desenvolvimento, tomo 2: Adolescência, Vida Adulta, Velhice. São Paulo: Paulinas, 2001.

SARAIVA, Lisiane Alvim; WAGNER, Adriana. A Relação Família-Escola sob a ótica de Professores e Pais de crianças que frequentam o Ensino Fundamental. Ensaio: aval.pol.públ.Educ.,  Rio de Janeiro ,  v. 21, n. 81, p. 739-772,  Dez.  2013 .   Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40362013000400006&lng=en&nrm=iso>. acesso em  10  Fev.  2017.

WEBDIANOIA dicionário de filosofia. Arete (verbete). Disponível em < http://www.webdianoia.com/glosario/display.php?action=view&id=33&from=action=search%7Cby=A> acesso em 30 Mar. 2017

WINNICOTT, Donald W. Privação e Delinquência. São Paulo, WMF Martins Fontes, 2012.

WINNICOTT, Donald W. Criança e seu Mundo. Rio de Janeiro, ZAHAR Editores, 1979.